domingo, 20 de fevereiro de 2011

Entrevista Ping Pong

Por Jaqueline de Paula

Em um bate-papo descontraído, a simpática Agente de Bordo da linha 3503 e estudante de Técnico em Segurança do Trabalho, Adriana de Oliveira, 37 anos, contou um pouco das dificuldades da sua profissão e como é seu dia-a-dia.

P: Na última segunda-feira (dia 14) iniciou-se uma greve dos funcionários do transporte público, reivindicando o aumento do salário. Você acha que essa forma de manifestação funciona? Porquê?
R:  Na verdade, a gente fica muito mal informado de como vão ser as manifestações, somos “pegos de surpresa”. Na maioria das vezes só temos acesso as notícias que vem do jornal. O sindicato não informa a gente, tem um delegado, mas nem sempre tem como encontrar com ele, os passageiros perguntam mas a gente não sabe informar.
P: Na sua opinião, qual a maior dificuldade desta profissão?
Olha, vou te falar, a gente tem que ter muita responsabilidade, é muito serviço, são muitas viagens, fica cansativo. Não dá tempo de tomar café, nem ir ao banheiro, eles falam que temos direito a vinte minutos de horário de almoço, mas quase nunca dá tempo.

P: Falta segurança para vocês que trabalham diretamente com a população?
R: Com certeza, ali você  fica exposta. Tenho que mexer com dinheiro, e é muito perigoso. Até tem o cofre, mas nem sempre dá pra guardar tudo nele, porque caso aconteça um assalto, o ladrão fica com raiva e vai querer descontar  na gente. As pessoas não reconhecem nosso trabalho, ao invés de facilitarem, por exemplo, pagando a passagem com notas menores, elas querem que você troque 50 reais. Não tem como eu obrigar ninguém a levar dinheiro trocado, e aí elas partem pra ignorância.

P: Qual o incidente mais curioso que já aconteceu durante seu expediente?
São vários, costumo falar que daria pra fazer um filme. Passageiros que ficam presos na roleta. Já vi muitas brigas dentro do ônibus, com motorista, entre eles mesmo (passageiros). O pessoal grita falando  que está armado. Em dia de jogo, os torcedores jogam pedra, jogam cadeira no ônibus, é uma zona.
P: Você acha que está surtindo efeito a iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte, em espalhar cartazes nos ônibus, com orientações de como as pessoas devem agir no ambiente coletivo (ex:  respeitar vagas para deficientes, grávidas e pessoas idosas)?
R:  Acredito que ajude um pouco, mas nem sempre as pessoas ligam. Tem muita falta de respeito, muitas vezes temos que pedir para as pessoas darem licença dos bancos reservados pra quem tem prioridade. Já fui  ameaçada, e isso acaba com o nosso dia, temos que ter auto-controle.