segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Ceguinho é a Mãe"




Jaqueline de Paula e Lídia Salazar

A arte é a forma de expressão que transforma experiências. Mas nem sempre é preciso ver algum quadro, ou alguma escultura, para saber que aquilo é arte. Com um simples toque, ou um cheiro suave, é possível perceber e sentir detalhes artísticos.

Tocar nos contornos, apalpar relevos e dobras, sentir o calor de um material, são ações que pessoas com deficiência visual aproveitam muito mais do que aquelas que não têm. Além disso, a arte não se resume apenas a pinturas e quadros. A dança e o teatro fazem parte desse mundo onde o que predomina e o que faz sucesso são os artistas.

Quem melhor para falar desse tipo de arte que atende aos deficientes visuais do que o próprio “Ceguinho”? Sim, o humorista e personagem da peça teatral “Ceguinho é a mãe". Geraldo Sebastião Magela Dias a 15 anos exerce a profissão de humorista e está inteiramente ligado ao tema.

O belo-horizontino não nasceu totalmente cego. Quando criança enxergava pouco, mas não deixou de viver uma infância alegre e cheia de brincadeiras.

Magela tem sete irmãos, dos quais cinco também são cegos, devido a uma doença chamada retinose pigmentar. Por ter estudado em uma escola regular e não ter tido a estrutura que necessitava, parou de estudar na oitava série.

— Eu não conseguia escrever, eu tinha que ficar só prestando atenção na aula. Quando era prova de matemática, eu fazia no quadro, lembra Magela. O “ceguinho” conta que começou a trabalhar cedo. Nos primeiros empregos não durou muito tempo pela dificuldade de enxergar. Apesar das dificuldades, ele não desistiu de realizar seu sonho que era trabalhar em rádio.

Fez locução em porta de loja e um dia, quando ouvia Aldair Pinto, seu ídolo no rádio, resolveu participar do programa que tinha uma parte interativa com os ouvintes. Conseguiu ganhar o prêmio que a programação oferecia e aproveitou para falar um pouco do seu talento de locução.

— O Aldair me perguntou o que eu fazia e não perdi tempo. Logo falei que fazia imitações de pessoas famosas e já fui direto ao assunto exatamente pra eu mostrar meu talento!

Foi assim que Geraldo Magela começou! Aldair Pinto adorou seu humor e prometeu que se ele conseguisse patrocinadores apresentaria o programa com ele. Logo depois, o ceguinho já estava com o seu próprio programa.

Com o tempo, as oportunidades foram aparecendo e Magela se tornou humorista e passou a ser reconhecido em todo o Brasil. Mas ele explica que não foi fácil chegar aonde chegou. Segundo ele, muitas pessoas não vão ao teatro por terem um preconceito com pessoas cegas. Ele acredita que muito desse pré-julgamento acontece porque as pessoas só ouvem falar de cegos como coitadinhos e não sabem o potencial que eles têm.

Ter seu próprio programa é o sonho do humorista, mas ele acredita que o preconceito será o maior obstáculo, “um cego participar de um programa já não é nada fácil, imagine apresentando seu próprio programa?”


         Encarando a vida sempre com bom humor, Geraldo Magela diz que estudou pouco o Braille e que por isso tem dificuldades em ler, “sou um cego ignorante”. Apesar disso, a tecnologia tem sido uma ferramenta favorável para os deficientes visuais, graças aos programas de voz “o ceguinho” consegue acessar sites, baixar músicas, enviar e receber e-mails.

Um exemplo de vida, superação e talento, assim podemos definir esse artista que já conquistou o carinho e o respeito do povo brasileiro.

 
 






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